Caros companheiros de jornada, usuários de veículos de duas rodas, amigos, gente diversa e versada em discutir sobre motocicletas.
1. Acidentes:
Para início de conversa, um Amigo foi sumariamente derrubado (e o quase-assassino nem parou para socorrê-lo) essa semana, mas para nossa imensa alegria teve ferimentos leves, está a salvo agora.
Essa é a notícia que me motiva a escrever este texto, posto que independentemente da seriedade com a qual se conduz uma motocicleta, sempre haverá alguém que não se importa com você. Digo isso sem amargura alguma, pois entendo que cada ser humano deve viver da maneira com acha melhor e, parafraseando Caetano Veloso: “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
2. Temas difíceis:
Porém, como pertencente a uma nação com educação não voltada a discussões sérias como a morte, coisa ainda um tabu na família brasileira, não consigo compreender as atitudes de alguns motoristas.
E me pergunto: Qual o intuito, a função, a justificativa para se fazer uma manobra de ultrapassagem antes de uma lombada sem levar em consideração que todos a volta estão reduzindo?
Sempre aparece uma multidão de populares, mesmo que o socorro já tenha chegado ou mesmo que o acidentado venha a falecer. Sinto como se alguém morto exercesse algum fascínio sobre algumas pessoas, pois até outros motoristas param para ver a cena mesmo não podendo acrescentar mais nada a situação, contribuindo conscientemente para um engarrafamento sem propósito.
3. Discussões paradoxais:
Cada acidente de trânsito que presencio faz minha mente viajar a muitos lugares, e discuto a morte comigo mesmo. E sonho o dia em que os impostos que pagamos não sejam utilizados para pagar funcionários incompetentes pondo em prática uma lei de trânsito no mínimo inusitada, onde o cidadão que não comete crime algum mas tem o potencial porque ingeriu alcool é punido com severidade, mas o cidadão (?) que comete crime de trânsito sequer é localizado, que dirá punido...
Minha revolta entra em conflito com minha aflição de ser motociclista. Sou viciado em motocicleta, em viajar, em descobrir novas paisagens. Mas quando penso que um imperito qualquer pode me derrubar, me mandar para um hospital na melhor das hipóteses, interrompendo minha vida produtiva, nem consigo definir o sentimento que manifesta mais forte: a raiva da possibilidade do acidente ou o prazer de desfilar com minha Custon de baixa cilindrada.
4. Viva o nosso povo:
Não entro nessa das propagandas do governo federal onde “o brasileiro é o povo mais inventivo do mundo, transforma dor em alegria com um jeitinho todo especial e blá blá blá. Isso é falácia...
Mas entendo que temos que fazer boas escolhas e obter o melhor do que se tem dsponível. Nesse ponto, alguns se saem melhor que outros e as vezes uma idéia simples se mostra bastante útil.
5. Um prêmio inusitado:
Como colaborador do Kansas Clube Leões do Asfalto – Facção Recife, estou sempre em contato com eles, frequentando as reuniões e acompanhando-os em algumas viajens, posso falar-lhes aqui de uma dessas sacadas que fazem o viver mais interessante.
Indo na contramão das homenagens comuns, que normalmente são feitas a pessoas já falecidas (Cidades, Avenidas, Praças, Hospitais, Escolas e outros prédios públicos), os Leões mostraram a que vieram: quando um motociclista membro do Clube sofre um acidente, recebe em homenagem uma caveira negra em forma de bordado.
O objetivo disso é simples: cada vez que você olhar para o seu colete vai lembrar daquele dia, os outros membros também vão, outras pessoas que não sabem sobre o bordado vão perguntar, e você nunca vai esquecer. Se você cometeu algum erro, imprudência, ou mesmo não estava em condições de dirigir aquele dia ou não foi capaz de observar os imperitos a sua volta, também não irá esquecer.
E a melhor parte disso tudo é que a caveira negra é uma homenagem a alguém que caiu, machucou-se ou não, mas acima de tudo está vivo. Porque os que fazem parte do Leões, não precisam estar mortos para serem homenagiados.
6. Conclusões:
Dessas observações que fiz e espero ter me feito entender, pode se entender que não é facil conduzir uma motocicleta mesmo que você tenha talento natural, as Leis de trânsito não são feitas para proteger o cidadão e sim para puní-lo, e vai fazê-lo não importa o tamanho de sua tristeza, não somos educados para compreender e discutir a morte e por fim, se você anda em Bando, nem quando você cair vai ser esquecido. Literalmente.
Eu ando em Bando.
Joel Gomes (jotagomes@gmail.com) Colaborador do KCLA – Recife.
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